Arquitetura Cósmica - Resenha

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Ao longo das eras da razão, procuramos por uma visão de mundo ampla o bastante para nos demonstrar o formato do universo em que vivemos, explicar os seus fundamentos, a sua origem e o seu telefinalismo, respondendo assim às grandes interrogações que a vida sempre nos propôs: de onde viemos, por que vivemos e para onde vamos?

Abrasados pelo fogo divino de Heráclito, enceguecidos pela luz do mundo inteligível de Platão, atordoados com o infinito de Demócrito ou encantados com o empíreo aristotélico, seguimos pelos caminhos dos séculos, sem visualizar adequadamente a geometria global da nossa casa cósmica. Aguardávamos alguém que a conhecesse melhor e nos consolasse o intelecto, perdidos entre as brumas avassaladoras da ignorância, da dor, do desterro e da morte.

Até que o Cristo nos trouxe a mais avançada cosmovisão suportável ao nosso concebível. Urdida em parábolas singelas, Sua visão nos revelou a conformação final da Casa cósmica, e indicou-nos a nossa curiosa inserção no Lar Paterno, envolto em uma atmosfera paradisíaca, o qual Ele nos estimulou a conquistar acima de todos os nossos interesses mundanos. Enlevados pela fé cristã, partimos no encalço da Morada Eterna, tecendo com os fundamentos da nova visão de mundo os alicerces da civilização ocidental. Os pensadores medievais, sobretudo Santo Agostinho e São Tomás, conformaram-na nos moldes do geocentrismo ptolomaico e apontaram-nos o Céu divino, além das últimas estrelas do firmamento, como o fim último da jornada humana.

Seus ensinos, contudo, se a princípio nos pareceram verdadeiros, logo foram destituídos pela ciência dos homens, que não pôde comprová-los aos olhos da fria análise racional e instrumental. Copérnico retirou-nos do centro do universo e Giordano Bruno nos fascinou com as lições de infinito, enquanto Galileu rompia as esferas vítreas que julgávamos sustentar os astros. Newton esmerou-se por nos desvelar a mecânica celeste, agora grafada em lógica matemática e traçada segundo leis surpreendentemente inteligentes. Mas não foi o suficiente, pois, incapazes de compreender, não pudemos delinear, na acanhada tela da imaginação, a antevisão final do universo e suas incontáveis moradas. As janelas do incomensurável permaneciam cerradas ante a estreiteza dos nossos intelectos, insuficientes para entreabri-las.

Foi preciso que Kardec e os grandes videntes contemporâneos escancarassem as portas do túmulo para que os “mortos” nos contassem como é o outro lado da vida e, desse modo, pudéssemos formular uma melhor visão da arquitetura da criação. Ainda assim não bastou. Continuamos sem compreender, como quem percebe, mas guarda os olhos do entendimento velados pela inferioridade e pelas ilusões que o relativismo nos confere.

Ao mesmo tempo em que os poderosos “telescópios mediúnicos” descreviam em detalhes as fascinantes paragens do Além, a Mecânica Quântica, pesquisando no infinitamente pequeno, revelava-nos uma imagem surrealista do universo físico, esboçando-o entre indeterminismos e imprecisões, sob a pena do absurdo. O cosmo se converteu em um oceano de ondas abstratas e a matéria se estilhaçou entre cristas coaguladas de energias e eventos imponderáveis. A relatividade de Einstein forjou as suas dimensões, antes planificadas, curvando-as nas volutas do tempo e do espaço. A famosa teoria do Big bang conferiu-lhe uma certidão de nascimento e um possível atestado de óbito, despertando-o do sonho de eternidade em que repousava. E não se deteve aí o pensamento humano, pois, a moderna Física das Cordas agora o transforma em uma vibrante sinfonia de proporções imensuráveis. Estiolou-se, porém, ainda mais a nossa insipiência, pois ela o urdiu em uma incompreensível tessitura multidimensional, entretecida na mais complexa matemática.

Na atualidade, perdidos em um cipoal de infindas análises, fomos ainda surpreendidos pelos topógrafos siderais que estão nos afirmando que o estofo do universo não é infinito. Está ele contido em insólitas fronteiras. Atônitos, estamos detidos na impossibilidade de responder a intrigante questão: o que há do “outro lado” dessas barreiras, além do fim o universo? Tragados pelas vertigens do inconcebível, nossas mentes são incapazes de responder aos apelos dos mistérios divinos que anseiam por ser desvendados.

Então, quando o caos conceitual parece dominar todos os nossos intentos de abarcar a complexidade fenomênica em que respiramos, sufocando-nos a parca razão, eis que o Plano Superior nos envia um novo arauto do Cristo: Pietro Ubaldi. Complacente com a nossa insuficiente compreensão, ele anuncia, agora com as palavras da epistemologia moderna, as mesmas verdades de todos os tempos: a cosmovisão cristã é realidade incontestável. Unindo o velho criacionismo com o moderno evolucionismo, ele termina por compor uma imensa síntese jamais vista na Terra, descortinando-nos o edifício arquitetônico da criação em sua inimaginável extensão, segundo os mesmos moldes que Jesus já havia delineado.

Alimentados por um novo e coerente desenho do universo, o mais elevado que nosso concebível atual é capaz de suportar, pudemos, enfim, descortinar as paisagens do infinito e vislumbrar a solução dos últimos porquês que a insciência dos tempos nos antepôs ao acanhado entendimento.

Brindemos, na entrada do novo milênio, essa estupenda visão de mundo, agradecidos a Deus por nos havê-la concedido, em uma hora em que as disquisições do materialismo científico ainda teimam em nos sufocar a alma, insistindo em nos afirmar que somos filhos do vazio, destinados ao nada. Estudemo-la, absorvendo os seus ricos ensinamentos, indispensáveis à edificação de um novo homem e de uma nova civilização, capazes de transformar a face do nosso planeta verdadeiramente no esperado Reino de Deus.

Belo Horizonte, outono de 2005

Gilson Freire