Oito Questões sobre Saúde e Doença

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1- O que a doutrina espírita tem a nos acrescentar na compreensão da enfermidade?

A doença é um fenômeno que, juntamente com a morte, é visto em nosso plano como um fracasso das leis biológicas que nos governam. Entendida como obra do acaso, somente nos traria prejuízos e dores injustificáveis, mas de um ponto de vista espírita, passamos a compreender que a doença cumpre uma finalidade no cortejo fenomenológico da vida, onde nada existe por obra do acaso e sem um objetivo a cumprir. Assim como a desencarnação, a enfermidade também é ferramenta da evolução, necessária nas etapas inferiores da existência, que tem na dor um guia para a aquisição dos patrimônios genuínos da divindade que existem em nós.

2- Como podemos compreender melhor essa função da enfermidade no cortejo da vida?

Para melhor entendermos isso consideremos que adoecemos de duas maneiras diferentes: de fora para dentro ou de dentro para fora. No primeiro caso temos as doenças exógenas e no segundo, as doenças endógenas.

A enfermidade exógena é de fácil compreensão. São conseqüências dos danos a que expomos nossa organização biológica submetendo-a as condições inadequadas de vida. Assim é que nos enfermamos por alimentação inadequada, em excesso ou em falta, por ingestão de tóxicos os mais diversos ou por vivermos condições precárias de higiene. Essas doenças, não são na verdade enfermidades, mas acidentes biológicos, a que nos expomos por desejo ou involuntariamente. Muitos deles são decorrentes de desequilíbrios ambientais oriundos das condições ainda primitivas de nosso orbe ou da imperfeição de nossa sociedade. Essas enfermidades são chamadas por André Luiz de dor evolução, por serem decorrentes dessas condições involutivas do planeta e trazem a função de nos impulsionar ao progresso.

As doenças endógenas, no entanto, são de difícil entendimento de um ponto de vista materialista, porque suas causas remontam ao espírito. Representam as enfermidades naturais de nossa espécie, cujas origens imediatas escapam a compreensão da nossa Medicina. São as doenças que não se explicam por si mesmas. Por vezes, a Medicina julga encontrar a origem delas em determinada alteração celular, ou mesmo molecular, mas trata-se de uma causa aparente, pois poderemos questionar ainda a razão de tais alterações. Por exemplo, à quantos padecimentos a serotonina não está sendo responsabilizada atualmente? Temos depressões horríveis por causa dela, engordamos por causa dela, morremos de dores de cabeça, ainda por causa dela. Será tão poderosa assim uma molécula, capaz de nos fazer sofrer injustamente? Naturalmente que deve haver algo errado nesse tipo de explicação. A serotonina não é causa, mas conseqüência de uma perturbação prévia que somente podemos imputar ao próprio espírito, para atender a nossa lógica espírita. O Espiritismo nos ensina que nosso corpo não é um amontoado casual de células que se organizam por si mesmos, mas é construção de uma consciência espiritual eterna, que se utiliza ainda uma estrutura de natureza energética, o perispírito, para confeccioná-lo segundo os seus objetivos. Esse corpo perispiritual, que acompanha o espírito após a morte, estabelece um campo organizador e mantenedor da forma, sendo ainda responsável por todos os fenômenos físico-químicos da natureza orgânica. Dentro dessa organização ternária é que devemos compreender o fenômeno de enfermidade e não somente do ponto de vista do corpo físico, a unidade passiva e campo de efeitos e não de causas. O espírito sendo o diretor dessa unidade, presidindo todos os fenômenos biológicos da unidade física, é diretamente responsável pela sua manutenção e, portanto senhor absoluto da saúde e da doença. Justo é considerarmos a relevância dessas duas unidades superiores no fenômeno da enfermidade.

A doença forçosamente deve iniciar-se no espírito, sendo acalentada no perispírito para se concretizar no corpo físico. Assim como as células físicas se organizam sob seu comando, elas também se desorganizam quando esse comando encontra-se por sua vez, desorganizado.

É muito interessante considerar o fenômeno sob esse ângulo, pois ele o torna mais lógico. A alteração celular ou molecular estaria assim obedecendo a um padrão vibratório alterado desse campo biomagnético que é o perispírito. Assim podemos compreender como a doença pode vir de dentro de nós. São nichos fluídicos no dizer de nossos amigos espirituais. Eles farão nossas células alterarem suas sínteses protéicas ou hormonais, promoverão crescimentos inadequados, desorganizarão códigos genéticos, desviarão impulsos e adulterarão mensagens nos mais diversos rincões do organismo, gerando as mas diversas enfermidades, de toda e qualquer natureza.

Mas é importante considerarmos que esse processo cumpre com uma finalidade. Ele tem uma intenção curativa. À medida que o perispírito irradia sua alteração biomagnética para o corpo físico, ele assim o faz na intenção de se livrar dele, portanto de curar-se. E ainda entendemos que o corpo físico tem uma peculiar capacidade de absorver em suas células as alterações vibratórias que contaminam as delicadas malhas perispirituais. Assim é que lemos em André Luiz que o corpo funciona como um vaso divino, um carvão milagroso filtrando as mazelas que trazemos na alma. Trata-se, portanto de um projeto de cura e adoecer o corpo físico é sanar os males de nosso espírito, são palavras de nosso mentor. O que achamos ser um mal por si mesmo é um veículo de solução que a providência divina determina para nos curar, para alijar de nossa intimidade uma espécie de pestilência vibratória que trazemos.

3- Precisamos compreender melhor como se formam essas vibrações perispirituais mórbidas, não é mesmo?

Sem dúvida. Estaríamos faltando com a explicação exata do fenômeno se olvidássemos esse aspecto essencial para o nosso entendimento. É fácil compreendermos que somos nós mesmos que lesamos nossos perispíritos, com nossos pensamentos, sentimentos e ações adulteradas diante das leis divinas. Nos seres responsáveis uma lei age com detalhes, vigiando-nos as ações, determinando que todo mal que praticamos em favor de outrem resultem em nosso próprio dano. Nossos espíritos na verdade são dínamos geradores de energias que podem gerar energias boas ou más, segundo nossas intenções. Quando nos dispomos ao mal, seja em pensamentos ou ações, produzimos energias de qualidades más, ou seja, deletérias, destrutivas, que podem danificar os outros, mas igualmente nos lesam a unidade perispiritual. Permanecem como nódoas em nossos perispíritos e uma vez absorvidas pelo corpo físico, promovem em nós a mesma maldade que as originou. Essa é lei de ação e reação, o próprio princípio do carma que nos faz sofrer o mesmo mal praticado ou mesmo intencionado. Portanto a causa verdadeira de toda e qualquer enfermidade é a nossa maldade, nossas ações contrárias a essa lei maior do cosmo, que é a Lei do Amor.

As doenças endógenas são então veículos da lei e por isto André Luiz as chama de dor expiação.

4- E as doenças infecciosas, seriam doenças exógenas?

Nada parece mais correto em Medicina do que considerar as doenças contagiosas como produzidas por microorganismo infectantes. André Luiz, no entanto, é categórico em nos afirmar que a invasão microbiana está vinculada a causas espirituais. Entendemos, portanto, que são os produtos mórbidos de nosso psiquismo que confeccionam o ambiente vibratório convidativo ao desenvolvimento dos microorganismos. São, portanto, ainda mais uma vez doenças endógenas. Não haveria assim o contágio, mas o convite. Ou seja, o contágio somente se faz mediante a susceptibilidade do organismo, que por sua vez está subordinado a condições puramente espirituais. Nós criamos esse ambiente convidativo a determinado agente biológico de que necessitamos para a drenagem de determinado teor vibratório pestilento acumulado em nosso perispírito, oriundo de nós mesmos. Lembremos que Jesus nos afirmou que não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai dela, pois o que sai provem do coração, e isto contamina o homem. É assim que aprendemos a chamar os microrganismos patogênicos de agentes varredores, ou seja, os lixeiros do corpo, que absorvem e digerem o nosso psiquismo mórbido, fruto de nossas maldades.

5- E as doenças dos animais e plantas? Como entendê-las dentro desses princípios?

Naturalmente, não podemos subordinar a enfermidade de ambos esses reinos à mesma lei de causa e efeito moral, a que estamos subordinados. São seres espirituais em evolução, quais nós mesmos, porém, ainda sem o livre arbítrio que conquistamos, e sem a mesma responsabilidade pelos atos que temos perante a lei. Observemos que essas leis morais se adaptam às condições evolutivas do ser e um ato passível de ser executado em um nível passa a ser condenado em outro. Não nós é lícito, por exemplo, devorarmos uns aos outros, como os animais. André Luiz, mais uma vez vem em nosso socorro, afirmando-nos que nossos irmãos inferiores padecem de enfermidades evolutivas, ou seja, de doenças exógenas, oriundas de desequilíbrios do meio em que vivem. Desequilíbrios estes provenientes não só da condição ainda primitiva do nosso orbe, como também ocasionados pelos homens, não somente a nível ecológico, mas também vibracional. O pensamento humano cobre a crosta planetária e afeta o equilíbrio da vida em todos os seus níveis. Podemos dizer que o homem contamina o orbe com sua maldade, que se reflete no comportamento e na vida animal e vegetal.

6- E as doenças geneticamente transmitidas?

Esse é outro grande capítulo da patologia humana, onde não pode faltar o elemento espiritual. Entendemos que o código genético se assemelha a um programa de computador autoexecutável. Como sabemos, um computador desenvolve várias funções obedecendo a esses programas automáticos, mas sabemos que são resultado de uma programação feita por alguém inteligente, com capacidade de prever e com um plano a ser realizado. Seria um absurdo admitir que o computador os fizesse por si mesmo, não é mesmo? Porque então a ciência materialista admite que esses códigos genéticos maravilhosos, dotados de inteligência previsora se fazem por si sós, no contexto aleatório da vida? Que coisa absurda, admitir que o acaso constrói coisas tão inteligentes! Achamos muito mais lógico admitir que o código genético é uma elaboração inteligentemente confeccionada pelo espírito, que deixa gravado nas moléculas do DNA ordens auto-executáveis para a sua perpetuação na carne. E é ainda o espirito quem determina o tipo de herança genética que irá receber, de acordo com a sua necessidade evolutiva. A doença genética é fruto dessa interação entre o código herdado e a condição de programação e execução do próprio espírito reencarnante. E mais uma vez o fator endógeno será o determinante da doença herdada, sendo o espírito o único responsável pela construção do seu destino.

7- Como devemos nos posicionar diante da doença?

Uma vez que compreendemos que somos os donos de nossa enfermidade, e que ela na verdade representa um processo de cura para os nossos espíritos, devemos recebê-la de um modo distinto do que mormente ocorre. É tão comum posicionarmo-nos diante de doença como vítimas, como se estivéssemos sendo atacados inocentemente por um mal que não nos pertence. Culpamos o tempo ou um micróbio qualquer, ou alguém que nos desejou algum mal. Outras vezes, o indivíduo se revolta não se vendo merecedor de tal desdita por acreditar que nada fez por merecê-la. Tais atitudes aviltam ainda mais os nossos espíritos e só fazem piorar os nossos sofrimentos. Devemos receber com boa vontade a visita da enfermidade, entendendo que quando doentes estamos na verdade sendo submetidos a um processo de cura, estamos sob cuidados da natureza, que é o nosso primeiro médico. Devemos procurar viver a lição que a doença nos traz e aproveitarmos para fazer crescer a nossa consciência. Mas não estamos fazendo aqui uma apologia da dor. Não estamos querendo dizer que não devemos nos tratar, deixando a enfermidade seguir o seu caminho. Tal atitude também seria outra loucura. Temos compromissos com nossa construção física e devemos cuidá-la como cuidamos de nossa casa. Assim devemos buscar o socorro devido para mantê-la de pé o máximo de tempo possível. Os tratamentos, de qualquer natureza que sejam, representam recursos da misericórdia de Deus a nosso favor e devemos nos valer deles.

8- Como participar de nossa própria cura?

Não nos iludamos, no entanto, quanto aos tratamentos disponíveis em nosso mundo. Eles podem sustentar e reparar a nossa casa, que é o nosso corpo físico, mas não podem curar-nos verdadeiramente. O homem se ilude que no balcão farmacêutico ele encontrará todos os recursos para a sua cura, o que não é verdade. Se já entendemos que somos os artífices de nossos males, compreenderemos imediatamente que somos também os únicos capazes de nos curarmos. Se a doença vem de dentro do homem, a cura real é somente aquela que parte também de dentro dele. E se o mal está na raiz de todo e qualquer sofrimento, somente o bem será determinante de nossa verdadeira cura. Esta é a máxima a que podemos chegar: somente o bem nos curará. Enquanto permanecermos ferindo a lei do Amor, a Medicina poderá apenas impor controles momentâneos sobre nossos padecimentos que retornarão sempre, exigindo a nossa reforma íntima para a sua completa solução. Enquanto semearmos maldades colheremos dores inevitavelmente. Portanto compreenderemos que somente Jesus nos cura, na medida em que aplicarmos os seus ensinamentos, capazes de nos transformar em geradores de bem e consequentemente em potenciais fontes de saúde e alegria. A saúde do corpo somente será conquistada como reflexo da saúde do espírito. Enquanto for somente um produto do corpo, será temporária. Por isso o apóstolo Pedro nos dizia que “somente o bem cobre a multidão de nossos males”.

Belo Horizonte, outubro de 1997

Gilson Freire