O Monismo Kentiano
O MONISMO SUBSTANCIAL DE KENT
CONTRIBUIÇÕES AO ESTUDO DA SUBSTÂNCIA SIMPLES
“A substância simples é a substância das substâncias e todas as coisas partem dela.
É realmente a primeira de todas as coisas e onde descansa todo o poder.”
James T. Kent
Por Gilson Freire
INTRODUÇÃO
A 8a lição da Filosofia Homeopática de James Tyler Kent nos parece ser a de mais difícil compreensão de seu livro, já consagrado no estudo da Homeopatia. Geralmente a lemos de modo superficial, como se nada nos fizesse sentido, deixando-nos evadir de seu real entendimento. Acreditamos sinceramente que a Homeopatia em si mesma não nos oferece subsídios para que possamos apreender esta lição em toda sua profundidade. Munidos de conhecimentos outros, arvoramo-nos em aprofundar um pouco no estudo da Substância Simples (SS) apresentada na referia lição, certos de que não podemos mais ler e passar adiante como se já estivéssemos compreendidos perfeitamente tudo ou nada disso de fato precisássemos entender.
O capítulo não pode ser estudado sem o auxílio de outras fontes do conhecimento humano, pois é o próprio Kent quem nos afirma que derivou muitos de seus ensinamentos de fontes paralelas onde se nutria. Na introdução de sua obra, ele afirma categoricamente: “Tudo o que aprendi se fundamenta em Hahnemann e em Swedenborg; os ensinamentos de um e de outro se correspondem perfeitamente”. Pois bem, pesquisamos como pudemos a obra de Swedenborg para melhor compreensão da sua 8a lição. Recorremos também a outros autores modernos para nos ajudar nesta tarefa, como Fritjof Capra, através de seus livros O Tao da Física e Ponto de Mutação e, sobretudo, nos baseamos na monumental obra de Pietro Ubaldi, A Grande síntese. Por trazermos a baila conhecimentos a princípio estranhos à Homeopatia, poderemos ser taxados de heterodoxos, porém achamos que tais informações muito podem contribuir para o nosso entendimento, assim como Kent hauria conhecimentos em Swedenborg, Hahnemann os buscava no Vitalismo e Allen e Ghatak também se valiam de outras fontes filosóficas, como se depreende de suas leituras. Cabe aos homeopatas a consideração se tais conhecimentos podem ou não ser aproveitados e se acrescentam algo de útil ao amadurecimento do assunto e nossa pretensão não é maior do que isto.
Não podemos deixar de exaltar a genialidade de Kent cujas observações permanecem mais modernas do que nunca. Confessamos também que sem o conhecimento oriundo do pensamento de Pietro Ubaldi nos seria impossível uma melhor compreensão do assunto. Apoiados em seus ensinamentos, para ele remetemos o leitor interessado em uma pesquisa mais profunda.
Embora correndo o risco de contaminarmos o sagrado assunto com a mácula de nossa ignorância, aventuramo-nos em um passeio nesta floresta de elevados conceitos, guardando a esperança de que aqueles que detenham melhores condições nos auxiliem em uma mais avançada elaboração do tema.
PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE SWEDENBORG
Emanuel Swedenborg foi um sábio sueco, nascido em Estocolmo, em 1688. Era filho do bispo de Scava, Joeper Swedenborg, e faleceu aos 84 anos de idade, em Londres, onde realizou a maior parte de seu trabalho. Segundo dizem foi uma das maiores inteligências de sua época, pois era engenheiro de Minas e autoridade em Metalurgia, Física e Astronomia, mas também zoologista, anatomista, financista e político, tendo se destacado, contudo, como eminente teólogo.
Em 1716 Carlos IX o nomeou assessor da Escola de Metalurgia de Estocolmo e a rainha Ulrica o fez nobre, levando-o a ocupar com distinção os mais destacados postos da corte, até 1743, época em que, com 55 anos, tudo abandonou para se dedicar aos estudos de Teologia. Escreveu 29 livros de matéria religiosa, em inglês e latim. Dentre eles se destacam: Céu e inferno, A Nova Jerusalém e Arcana Celestia. Seus ensinos apoiavam-se essencialmente na Bíblia e julgava-se um embaixador da corte celeste na Terra para interpretar “a palavra de Deus”, da qual estava certo de possuir a chave. Somente ele conhecia os profundos mistérios arquivados na Bíblia, pois Deus o inspirava diretamente para isso. Criou um complexo sistema de símbolos, espalhados por seus livros, para explicar o que entendia ser o sentido profundo do texto sagrado.
Dizia-se possuidor de visões, que visitava o mundo dos mortos e confabulava com os espíritos, trazendo informações sobre seus modos de vida e descrições do plano em que viviam. Nesse aspecto é tido como um precursor do Espiritismo, embora não tenha apregoado a reencarnação como um dos fundamentos de sua doutrina. Seu nome, contudo, consta entre aqueles que assinaram a obra básica da codificação espírita, o Livro dos Espíritos. Fundou uma religião que chamou “Nova Jerusalém”, também conhecida como “Nova Igreja”, que subsiste até hoje na Inglaterra, contando com reduzido número de seguidores.
Verificamos que em um de seus livros intitulado “Herein Know Thyself” (que pode ser traduzido por “No conhecimento de si mesmo”) encontra-se o intrigante capítulo: “Todos os planos de vida são substanciais” e, examinando-o, descobrimos tratar-se da fonte onde Kent hauriu os seus ensinamentos sobre SS, tendo em vista a perfeita concordância do tema aí abordado e não se encontrar em Homeopatia qualquer outra referência ao assunto. Confessando-se seguidor de Swedenborg, Kent manteve-se estritamente dentro de um pensamento vitalista unicista-tomista. Confiando na palavra bíblica, a qual de fato apregoava, como nos deixa claro na lição 18 de sua obra, enriqueceu sobremodo a sua reconhecida religiosidade com os conceitos de caráter espiritualista oriundos da visão intuitiva do eminente vidente sueco.
PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE PIETRO UBALDI
Pietro Ubaldi foi um filósofo italiano, nascido em Foligno em 1886 e falecido em 1972, no Brasil, onde residia desde 1953. Escreveu 24 livros de caráter filosófico, científico e religioso. Sua principal obra, a “A Grande Síntese”, escrita em 1933, um verdadeiro compêndio do Espírito, faz uma extraordinária síntese do conhecimento humano. Sua filosofia pode ser considerada uma continuação da Escolástica, pois seu principal estudo trata da Queda espiritual, sob uma abordagem científica e atual, relacionando-a à constituição e à essência do Universo físico. Seus ensinos se conjugam perfeitamente com a doutrina tomista do professor Masi Elizalde, levando-nos a conclusões inusitadas que completam e esclarecem a Filosofia Homeopática. Filósofo cristão e espiritualista, fez uma verdadeira síntese de todas as religiões professadas pelo homem, sem pretender criar nenhuma outra e surpreendentemente seus estudos servem a todas indistintamente. Projetando importantes luzes sobre o homem espiritual, estuda a origem de seu drama metapsíquico em base a psicologia da queda, em perfeito acordo com o homem hahnemanniano e formula soluções para a sua melhoria. Em 1965 seu nome chegou a ser proposto para o prêmio Nobel de Literatura, tendo ficado em 2o lugar, perdendo apenas para o filósofo existencialista Jean Paul Sartre.
DE QUE TUDO É FEITO, AFINAL?
Kent nos fala da substância vital imaterial que a tudo formaria, afirmando-nos que a Energia Vital (EV) tem uma base substancial, não guarda existência independente, ou seja, não existe por si mesma, possuindo elos com algo que lhe é superior e continuação com outras substâncias que lhe são inferiores. Questiona a essência de tudo e da EV, sua origem e sua finalidade. Procuremos discorrer sobre estas intrigantes questões levantadas pela genialidade de Kent e de Swedenborg, fazendo um paralelo com as informações da física atual e da filosofia ubaldiana.
Quando penetramos na intimidade da matéria, no reino subatômico, deparamos-nos com as intrigantes partículas virtuais, os bósons, quais os glúons, fótons e grávitons, destituídas de massa e carreadores das forças fundamentais e os férmions, quais os múons e os quarks, os tijolos mínimos que constituem toda a matéria. Entidades intrigantes e instáveis que ora se comportam como ondas ora como partículas possuidores de massa, fazendo do mundo atômico uma teia de eventos feita de vazios e impulsos inter-relacionados e nada mais. O universo físico se desvanece aos nossos atônitos olhos habituados ao concreto e ao real, pois as partículas subatômicas não passam de mirabolantes processos virtuais. O microcosmo se estabelece como espaços habitados por ondas em movimentos fechados, imprimindo-nos aos sentidos a ilusão de concretude. E concluímos, forçosamente, que a matéria, como expresso na famosa equação de Einstein (E=mc2), nada mais é do que energia concentrada, onde seu maior atributo é a velocidade. Nossas mentes, nada afeitas ao abstrato, necessitam compreender que algo precisa existir e uma substância deve ser a base das partículas que sustentam o mundo da realidade. Algo que lhes dê peso e consistência, pois não podem se basear no nada. A física formulou a hipótese de que um “quid”, definido simplesmente um “quê” inacessível a nossa compreensão para que fosse a substância em base a qual tudo se forma, tanto a energia quanto a matéria, que desta se deriva.
Podemos aventar que este substrato, este quid, constituinte de tudo, em última análise, é a Substância Simples de Kent. Nossas mentalidades exigem que algo constitua tudo que existe, pois do contrário nada existe. As partículas essenciais, mesmo aquelas sem peso, em forma de ondas, necessitam de um substrato em que se apoiarem. Se chamarmos isto de potência ou energia, esta energia deve também ter uma substância que a constitua. O próprio pensamento, mesmo sendo abstrato, deve possuir algo que o veicule e deve ser uma substância. Portanto existe uma substância constitutiva em nosso Universo. Esta substância não é matéria, nem mesmo energia, nem mesmo pensamento e, sendo indefinível, não podemos conjecturar sobre sua a composição e não temos outra opção, como o fez Kent, senão remontá-la ao próprio Criador do Universo: Deus.
É a SS o substrato constitutivo do Universo, que define a si mesmo e não pode ser definido em base a mais nada, pois nada lhe é anterior ou lhe compõe. Seria o material formativo do espírito, assim como da matéria e da energia. Poderíamos dizer que é o fluxo de pensamento de Deus que se coagula para tudo formar. Não pode ser um nada, pois de alguma coisa tudo precisa ser feito, como já postulavam os gregos antigos ao proferir que “o nada, nada pode criar”. Compreendemo-la como uma emanação divina imaterial e, então, há de ser uma idéia, um fragmento da essência incriada. Se a esta idéia chamarmos Deus, Deus é também uma SS, como nos alega Kent: “(...) existe um Deus supremo, Ele é substancial, ele é uma substância”. E como tudo, o espírito também é uma SS: “a alma é por sua vez uma substância simples”. Quanto à EV, Kent deixa claro que é a própria expressão da mesma SS e, o corpo físico, não poderia deixar também de ser, pois, como toda matéria, é uma condensação de SS.
Ao admitir uma unidade fundamental na constituição de tudo que existe no Universo, a Homeopatia, concordante com o pensamento kentiano, se firma como um fundamentalismo substancial. O pensador desavisado poderá supor que tal postura pareça caminhar em oposição às recentes hipóteses da física moderna, que admitem um raciocínio diverso, pois Fritjof Capra nos diz: “Num universo que é um todo inseparável e onde todas as formas são fluidas e estão em permanente mudança, não há lugar para qualquer entidade fundamental fixa” (0 Tao da Física, cuja referência completa se encontra no final do estudo).
De fato, nossa lógica se nega a admitir uma subunidade constitutiva, uma partícula fundamental, pois a mesma estaria sujeita a novas subdivisões, em direção ao infinito e algo a formaria, por sua vez. Estamos de acordo com Capra: não pode haver uma unidade material fundamental fixa, indivisível, um último termo para a matéria. Quando aceitamos, com Kent, a SS como elemento fundamental do nosso Universo, não estamos compreendendo-a como uma entidade fixa e muito menos material, mas como algo que encontra definição no “quid” da física quântica, aquele algo indefinível, um “quê” que se define a si mesmo, que “se ergue pelos seus próprios meios”, gera a si mesmo e não é nem massa e tampouco uma energia. Algo que tem, como atributo principal, o movimento, a mutabilidade, a inter-relação e a fluidez. Este “quid” seria a própria SS tal qual a define Kent e encontraria lugar na hipótese chamada “bootstrap”, termo que em inglês significa “erguer-se pelas suas próprias botas”, dizendo respeito a algo que a si mesmo se sustenta. Kent nos afirma: “ao considerar a substância simples não podemos pensar nem em tempo, nem em lugar, nem em espaço, porque não estamos no reino das matemáticas, nem tampouco nas limitadas medidas do mundo do espaço e do tempo, estamos no reino da substância simples”, demonstrando-nos claramente que sua concepção substancial não propõe uma entidade material fundamentada nas dimensões físicas, mas sim um substrato de natureza espiritual e completamente abstrato.
Compreendemos, portanto, a SS como um processo, um conceito, algo que não podemos definir melhor, concordante assim com a noção que nos fornece Capra, sobre a constituição de nosso Universo: “(...) a energia de movimento pode ser transformada em massa, sugerindo que as partículas são processos em vez de objetos”. Assim, segundo a intuição de Kent e as observações da física quântica, entendemos que a SS pode ser definida como um princípio fundamental, devendo destituirmo-nos de qualquer alusão a partícula ou objeto ao nos referirmos à ela. Compreendê-la como uma idéia, um movimento, uma potência, fluxo ou conceito nos aproxima, sem dúvida de sua verdadeira e intrigante natureza.
A visão fundamentalista de Leibniz nos trouxe o conceito de mônada, definida como a substância fundamental do Universo, que seria simples, isto é, sem partes e espelharia em si mesma a totalidade do Universo. Encontramos paralelos perfeitos entre a mônada leibniziana e a substância simples Kentiana.
Kent ainda nos afirma que a EV não pode existir por si mesma, sem uma causa que lhe seja anterior, trazendo o conceito de “fluxo”, de “anéis” que se interligam. Mais uma vez é surpreendente a genialidade do nosso autor, pois tais conceitos encontram perfeito paralelo na concepção de “interpenetração” da física quântica, onde a idéia de fluxo e de elos que se interpõem e se transformam é fundamental. Corrobora-se assim o pensamento de Capra ao nos afirma: “a teoria quântica revela um estado de interconexão essencial do Universo. Ela mostra que não podemos decompor o mundo em menores unidades capazes de existir independentemente”.
A TEORIA DAS CORDAS
Ainda mais recentemente nos deparamos com a intrigante teoria das cordas (ou das supercordas) onde a idéia de Kent de fato encontra sua mais perfeita identidade. Segundo esta teoria, de grande sucesso na atualidade e que, como dizem, irá dominar o pensamento da física nos próximos séculos, as partículas subatômicas são feitas de diminutíssimas cordas vibrantes. De acordo com a frequência em que vibram, geram as diferenciações entre elas, dando origem a tudo que existe, sejam as partículas virtuais ou as de massa. Portanto tudo é feito destas mesmas cordas, que são de mesma natureza e sempre idênticas a si mesmas. Ao vibrarem em espaço aberto dão origem às energias ondulantes e migratórias, formando as partículas desprovidas de massas, mas ao vibrarem em um espaço fechado, transformam-se em partículas providas de massas, adquirindo peso. Desta maneira se explicaria a dualidade partícula-onda das unidades subatômicas. Brian Greene que nos escreveu o excelente livro, O Universo Elegante, para nos descrever essa brilhante teoria nos afirma: “de acordo com a teoria das cordas, se pudéssemos examinar a intimidade das partículas que formam a matéria com uma precisão maior, verificaríamos que elas, em vez de assemelhar-se a um ponto, têm a forma de um laço, mínimo e unidimensional. Cada partícula contém um filamento, comparável a um elástico infinitamente fino, que vibra, oscila e dança e que os físicos, carentes de criatividade chamaram de corda (...) a teoria das cordas acrescenta um novo nível microscópico – o do laço vibrante – à progressão já conhecida do átomo aos prótons, nêutrons, elétrons e quarks”.
Continua o autor a nos dizer: “ao invés de produzirem notas musicais, as vibrações das cordas dão lugar a partículas cujas massas e cargas de forças são determinadas pelo padrão oscilatório da corda. O elétron é uma corda que vibra de uma maneira, o quark up vibra de outra e assim por diante. Desse modo, longe de constituir um conjunto caótico de dados, as propriedades das partículas, na teoria das cordas, são manifestações de uma única característica física: os padrões ressonantes de vibração – ou seja, a ‘música’ – dos laços fundamentais das cordas. A mesma idéia aplica-se também às forças da natureza. Veremos que as partículas de forças também se associam a padrões de vibrações destas mesmas cordas e, desse modo, tudo o que existe, toda a matéria e todas as forças, está unificado sob o mesmo princípio das oscilações microscópicas das cordas – as ‘notas’ que as cordas tocam.”
“De acordo com a teoria das cordas, os componentes elementares do universo não são partículas puntiformes. Em vez disso, são mínimos filamentos unidimensionais, como elásticos infinitamente finos, que vibram sem cessar. São os ingredientes ultramicroscópicos que formam as partículas que, por sua vez, compõem os átomos”.
“A teoria das cordas oferece uma teoria verdadeiramente unificada, uma vez que propõe que toda a matéria e todas as forças provêm de um único componente básico: cordas oscilantes.” E atentemos para o fato de que o autor reafirma: “todas as cordas são absolutamente idênticas”.
Qual a tamanho destas cordas? O autor nos responde que seu universo dimensional é tão diminuto que escapa às nossas aferições, e que existem na tessitura mínima do espaço: “O comprimento típico de um laço de corda é semelhante à distância de Planck, ou seja, cerca de 100 bilhões de bilhões (1020) de vezes menor do que o núcleo atômico.”
A teoria das cordas é de fato um pensamento muito simples que compreendemos num átimo e será de grande sucesso, pois reúne em uma explicação unitária tudo o que existe, dando um sentido de unidade à criação. Curioso observarmos que o autor se refere às cordas como formadas de “laços ou anéis fundamentais”, tal qual a proposta de Kent, identificando assim que o “quid” proposto pela física quântica é, em última análise, um filamento indefinido, que ao vibrar determina os diferentes tipos de subpartículas, tanto as virtuais quanto as de massa. E esta teoria tem se mostrado eficiente para explicar o intrigante comportamento e a existência do mundo infra-atômico e o reino das forças que o sustenta.
Contudo existe neste ponto uma curiosa interrogação que espontaneamente nos assalta: de que são feitas estas cordas? Que material as constituí? Vejamos como enfrenta esta intrigante questão o mesmo autor: “as cordas são verdadeiramente os elementos fundamentais e indivisíveis do átomo, no mais puro sentido da palavra grega. Por serem os elementos constituintes absolutamente mínimos de tudo o que existe, elas representam o fim da linha – a última das numerosas camadas da subestrutura do mundo microscópico. Embora tenham uma existência espacial, a pergunta a respeito da sua composição é desprovida de conteúdo. Se as cordas fossem feitas de algo menor do que elas, então não seriam elementares. As cordas são simplesmente cordas, como não há nada mais elementar, não se pode dizer que sejam compostas por nenhuma outra substância”. Portanto, a física chega em um ponto de interrogação proibido – não se pode questionar de que são feitas as cordas, tampouco quem as criou, sob que influxo vibram e o que determina o seu comportamento tão harmoniosamente dirigido. São questões muito intrigantes que remetem o nosso pensamento, inevitavelmente para o “Criador-Incriado”. Apesar das questões que nos assaltam a mente, a teoria das cordas é de fato um assunto que de imediato a todos atrai denotando que há um fundo comum de verdade que se sintoniza com a própria constituição de nossas almas. E podemos inferir que somos também, por nossa vez, cordas vibrantes em um Universo que é uma imensa sinfonia, uma sinfonia cósmica de expressões inimagináveis. Tudo vibra, tudo oscila em um conjunto harmonioso de impulsos, ricos de sonâncias e ritmos, desde a matéria, na intimidade atômica, às radiações energéticas palpitantes de vibrações até o soberbo bailado das galáxias sobre o veludo negro do espaço cósmico.
Analisando os detalhes com que Kent enriqueceu a teoria da SS, nos surpreendemos com a sua harmoniosa arquitetura conceptual, antecipando-se sobremaneira aos conceitos atuais. A SS é a substância virtual indecomponível que forma as cordas, eis a conclusão máxima que somos conduzidos a admitir. É um potencial vibrante que, se projetado em um dinamismo linear aberto, forma a energia, mas se fechado em si mesmo, gera a massa. Os laços das cordas encontram perfeito paralelo com os anéis de Kent, inclusive na forma como a mentalidade moderna os representa em imagens gráficas. Os anéis vibram de maneiras distintas formando tudo o que se conhece e se combinam, entrelaçando-se para gerar novas formas de manifestação. Eis delineada toda a teoria das cordas pelos seus verdadeiros pais, Swedenborg e Kent.
PARA ENTENDER A SUBSTÂNCIA SIMPLES DE KENT
A elevada e complexa visão do Vitalismo apresentada por Kent se baseia toda em conceitos dos quais a cada dia mais se aproxima a física moderna: uma visão unitária e monistas da composição do Universo. Tudo seria um composto de SS, assim como tudo é feito de cordas fundamentais, sempre idênticas a si mesmas. Segundo a genial concepção de Kent, a energia não tem existência independente, mas como tudo no Cosmo, encadeia-se em um ciclo de transformismo. A criação se configura como uma teia de eventos intercomunicáveis e transmutáveis, baseados no permanente transformismo de algo que a todos é comum: a SS. Examinemos alguns dos avançados preceitos aventados pelo maior homeopata do século XX, traduzidos em nossa linguagem atual, para se compreender a SS, segundo as mesmas proposições das teorias modernas:
Anterioridade – há alguma coisa anterior à energia que estabelece a sua formação e seu movimento. A gênese da energia não pode ser explicada por si mesma e necessita de um substrato que a sustente, cuja essência somente pode ser concebida como a natureza criadora e incriada da Divindade.
Fluxo, continuísmo e transformismo – a SS é fruto de um contínuo fluxo de transformação, onde cada elemento gera um seguinte e é gerado por um precedente, em um ciclo de transformação criativa, onde o último se une ao primeiro, e o primeiro ao último, sem fim e sem começo. É o “bootstrap” referido atualmente pela física quântica, onde cada elemento subatômico, hoje considerados entidades abstratas, sustenta outro que termina por sustentar-se a si mesmo, conceito também chamado de interpenetração. Tudo penetra em tudo e tudo está em tudo. Neste Universo que é um emaranhado de eventos interpenetráveis nada tem existência isolada e tudo se sustenta em tudo, de tal modo que a criação, em última análise é uma teia unitária e conexa de eventos intercomunicáveis.
Evolução – “que devemos entender por fluxo?” – interroga kent, e ele mesmo responde: “devemos pensar em uma corrente, onde cada argola sustenta a seguinte e é sustentada pela anterior”. Há nesta concepção de fluxo, não somente a idéia de sustentação das primeiras para as últimas substâncias da criação, mas uma noção de transformismo evolutivo, onde uma entidade dá origem e suporta outra, como um pulso que carreia as menores e mais simples unidades para os maiores e mais complexos, formando todos os sistemas da criação. A EV, como uma SS atua por fluxo, ou seja interpenetra e transforma, induzindo a evolução do simples ao complexo, unindo continuamente a causa ao seu efeito último. Por isso a energia não é o princípio de si mesma, advindo da substância divina originária.
Telefinalismo – “Por meio da SS o Divino Criador pode empregar todo os seres criados e as formas para seus fins mais elevados” – é a SS que tudo impulsiona e a tudo imprime um telefinalismo, cuja origem e fim não temos outra alternativa do que imputar à vontade do Criador. O reino que habitamos está feito por Leis precisas e sábias que, se a ciência as identifica e formula para elas expressões matemáticas, não pode nos informar por que e por quem são feitas dentro desta lógica. Não sabemos responder por que o princípio antrópico (pensamento moderno que preconiza que os princípios da física foram sintonizados para a formação vida, admitindo a existência de uma finalidade elevada na formação do Universo) parece ser uma das maiores expressões do Universo, ou seja, a criação conspirou, desde o seu início para que tudo se estabelecesse da forma como é hoje e o acaso não está encontrando mais lugar nas concepções modernas. Quando o Big-Bang explodiu, as leis físicas já sabiam que deveriam dotar as partículas com características tais que permitiriam o equilíbrio da unidade atômica e depois o estabelecimento da vida em seu seio. Por exemplo, quem determinou que a carga elétrica do elétron fosse exatamente a mesma do próton, se ambos têm massas cem mil vezes diferentes? Como as leis físicas atuam de modo idêntico nas distâncias incomensuráveis do infinito, se jamais trocaram informações sobre suas coerências e finalidades?
Essência primária – “Existe um Deus supremo, Ele é substancial, é uma Substância, a primeira de todas substâncias”. Kent nos afirma que Deus é o primeiro anel da corrente que sustenta todo o fluxo da substância, do máximo ao mínimo e do mínimo ao máximo. E assim o que está no macro também está no microcosmo. Um fluxo divino e incessante que mantém a unidade de toda criação está aí perfeitamente concebido. E desta forma a SS sustenta todo o mundo físico e energético, encontrando perfeita correspondência com o intrigante “quid” da física moderna, como já definimos. Essa essência primaria substancial é tudo o que existe e podemos entendê-la, como já nos referimos, a idéia ou potência que se move, uma força criadora, cuja origem não temos somente podemos imputar a Deus, pois não pode ter-se feito a si mesma. Por isso, o fim está no princípio e o princípio está no fim, como nos ensinou a Cabala.
Harmonia – como o substrato de tudo que existe, a SS confere harmonia a tudo que tenha ou não forma, pois nada existe que não seja um composto de SS.
Poder – É a SS uma substância poderosa, que a tudo domina e confere a cada fenômeno a razão segura e objetiva de sua existência.
Inteligência formativa – ela dá forma a tudo que existe, tenha ou não formato identificável aos nossos olhos.
Individuação – a SS determina uma razão de ser para tudo o que existe, fazendo distinção de qualidades de tudo que existe, conferindo portanto individualidade a todo eu fenomênico, seja físico, químico ou psíquico. Desta maneira mantém a economia de todo reino mineral, vegetal e animal.
Ordem – mantém a ordem quer na matéria bruta, quer nos corpos vivos e por ela o próprio Universo é organizado.
Modificação – está sujeita a modificações e pode estar em ordem ou desordem.
Coesão – sem ela não há coesão das partes de uma unidade. A própria substância da gravidade é expressão de sua vontade coesiva. Sem ela tudo morre e tudo se desorganiza.
Limite – por ela todo fenômeno se mantém cerceado em seus limites de manifestação, de modo que cada individualidade do Universo está sempre em seu exato lugar.
Unidade – ela pode existir como simples e composta embora, quando em composição, cada SS mantenha a sua própria identidade. Umas dominam as outras para as suas próprias finalidades, explicando-se assim porque as coletividades se baseiam em compostos de unidades menores, do átomo, às moléculas, aos organismos, as sociedades de organismos até as comunidades de mundos, sustentadas por unidades coletivas, do infinitamente pequeno ao incomensurável.
Adaptação – se conforma e se modifica segundo as necessidades de cada fenômeno.
Construtiva e destrutiva – umas são destrutivas a fim de que outras possam existir, mostrando-nos a existências dos eternos ciclos de renovação da natureza, onde tudo que nasce morre e tudo que morre deve renasce. Configurando-se um sistema cíclico em que a construção se alterna com a degeneração, a vida se antagoniza com a morte, num eterno reciclar de renovações constantes, pois a SS é indestrutível por sua própria natureza.
Graus diferenciados – tudo que existe possui graus diferenciados de SS. Nos graus mais interiores e sutis a SS constitui a vontade e o entendimento do homem, ou seja, a alma.
Como causa primária de tudo a SS está na saúde e na origem de todas as enfermidades. Dinamizamos nossos medicamentos para chegar às suas SS – a essência formativa – e com isso poder interagir com a SS formadora do ser em seus desequilíbrios mais ínfimos.
A SS está fora do tempo e do espaço, não pertence ao “reino das matemáticas”, não pode ser medida, portanto está inacessível a nossa capacidade atual de averiguação, cuja existência somente pode ser deduzida através da razão.
E finalmente Kent não apresenta a SS constitutiva da energia vital como sendo a vice-regente da alma que por sua vez é também uma SS. Na saúde mantém o corpo animado e funcionando em perfeita ordem e aprimora as suas faculdades. Sendo de mesma natureza do espírito, pode ser perturbada pela vontade e entendimento do homem quando mal direcionadas.
Este estudo revela de fato uma concepção unitária e indivisível do Todo que hoje encontra perfeito paralela com a teoria das cordas e com uma escola filosófica denominada Monismo. Vale a pena meditar nos intricados conceitos deste capítulo de Kent, confeccionado no mais puro Vitalismo unicista, sem deixar que os preconceitos de toda natureza que nos compõe o saber interfiram na interpretação de suas elevadas proposições.
IMPORTANTES CONCLUSÕES
A conclusão inevitável que chegamos ao admitir os pressupostos que integram a Substância Simples de Kent é que a Homeopatia é um corpo filosófico monista por apregoar a unidade espírito, energia vital e corpo. Admitindo-os como elementos interdependentes, perde-se toda a lógica das concepções Kentianas, uma vez que todos são apresentados como diferenciadas apresentações de um único substrato, a Substância simples. Assim, a energia vital é um hálito do próprio espírito, o seu campo de expressão, substância de si mesmo e não algo que se lhe incorpora de fora para dentro. O mesmo se dá com o corpo físico, que passa a ser um composto erigido pela própria mente, através dos poderosos mecanismos do inconsciente.
Portanto, uma vez que admitimos a perfeita unidade humana, não nos é possível compreender que suas partes adoeçam de forma isolada e aleatória, mas somente em conexão com a única realidade presente na vida, o Espírito. Cabe-nos assim a condução terapêutica para o unicismo homeopático, como única maneira de abordarmos o enfermo em sua totalidade indissolúvel, única forma de se promover a sua genuína e integral cura.
O medicamento homeopático pode ser compreendido como feito de “cordas abertas”, carreando um corpo de conceitos e idéias ao qual não se sujeitam medidas ou quantidades. Compreendemos que o método de diluições e sucussões arrebata as cordas fechadas que compõem o composto medicamentoso, deixando apenas a sua contra-parte sutil, feita somente de “laços abertos”, utilizando-nos da terminologia kentiana. Por isso todo medicamento, assim com toda substância material é um composto monista, pois tudo esta feito de Substância simples, como nos diz Kent. E assim todo remédio homeopático é absolutamente de mesma natureza, embora advenham de minerais, vegetais ou produtos animais – são essências formativas completamente imateriais e independentes de suas composições químicas e que trazem a linguagem da verdadeira doença do homem, o seu drama existencial, impresso em todos os elementos da natureza.
A VISÃO MONISTA DE PIETRO UBALDI
Ubaldi nos traz importante contribuição para o entendimento do intrigante tema suscitado por Kent, sem dúvida complexo para nosso psiquismo atual, de modo que não podemos dispensar-lhe o concurso. Façamos então uma rápida apresentação de seus ensinos, tecendo um paralelo com a doutrina da SS de Kent e a teoria das cordas, embora correndo o risco de adulterá-los por passá-los pelo crivo de nossa precária compreensão. Em A Grande Síntese, uma obra escrita pelas vias da intuição, afirma-nos Ubaldi que, em nosso plano de manifestação, reconhecemos três elementos básicos: o espírito, a energia e matéria. A fim de se facilitar a condução do tema, o autor simboliza tais elementos por: espírito = a, energia = b e matéria = g. Segundo Ubaldi estes três elementos básicos, constitutivos de tudo o que existe, nada mais são, na realidade, do que expressões distintas de uma mesma e única substância que ele denomina w. Portanto, haveria no nosso Universo apenas um elemento que se apresenta dentro destas três e únicas possibilidades, constituindo nada mais, nada menos do que as “Três pessoas da Santíssima Trindade”. Contudo o pensamento de Ubaldi vai mais além, pois estabelece a existência de uma inter-relação entre estes três elementos, que confeccionam um ciclo integrado de transformismo. Este ciclo, chamado de “o grande respiro do Universo” se faz em dois sentidos ou fases que se completam e se encerram em um grande e imenso movimento harmônico de criação, contendo todos os movimentos menores. O primeiro movimento é o de condensação da substância divina e se faz no sentido do espírito à matéria:
a®b®g
O segundo é o da descentralização da substância divina e se faz no sentido oposto, ou seja:
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Os dois movimentos se harmonizam em um circulo fechado, representando o transformismo da substância em suas duas fases inversas e complementares, caracterizando o respiro do Universo:
Desta forma o ciclo se fecha e os dois movimentos se unem. O primeiro é também chamado de descida involutiva da substância e o segundo, subida evolutiva. Desta forma o Universo inspira e expira em todo instante. No primeiro impulso, o involutivo, o espírito se condensa na energia e esta se coagula na matéria. Após a condensação, inicia-se o ciclo inverso, reativo, através do qual a substância se expande e restitui a energia e desta, o espírito. Todos os fenômenos do nosso Universo se enquadrariam neste simples esquema, fazendo do existir uma eterna oscilam entre os dois extremos deste ciclo, seja a formação das galáxias e estrelas, a geração das energias radiantes ou concêntricas até a criação da personalidade humana, justificando-se a existência do dualismo polarizado em fases opostas, em que tudo se compõe, o eterno yin e yang do Taoísmo milenar. Ciclos alternantes e complementares, pois não encontramos, em nosso plano, nada que caminhe numa única direção, e todo movimento em um sentido deve se compensar no movimento de sentido oposto.
Portanto, a energia não existe por si mesma, mas provém da condensação da idéia ou espírito, assim como a matéria não tem existência própria, mas é a coagulação da energia. Assim se estabelecem os elos sugeridos por Kent. O espírito, por sua vez, faz o elo com Deus, Substância Primária e genética de toda a cadeia, o primeiro elo da corrente criacionista. O elemento de ligação entre eles é o movimento, o impulso íntimo que move a substância em suas manifestações diversas, de tal modo que este é estático na substância pura, existente na imobilidade, retilíneo na energia, e fechado ao máximo na matéria.
Compreendemos, assim, que os três elementos básicos, possuem uma essência formativa comum a que Ubaldi denomina substância. Esta é a essência que não se define, o "algo" constitutivo, substrato divino e imanente da criação, ainda que estas afirmações nos lembrem a doutrina panteísta, porque não podemos imaginar uma criação fora da Divindade. Se toda substância é matéria divina, então tudo é Deus, embora o Criador seja mais que a soma de suas partes e na verdade não estamos diante de um panteísmo, mas sim de outro pensamento filosófico denominado: monismo.
A Grande Síntese nos apresenta então a Grande Equação Da Substância, formulada em genial simplicidade:
w = (a = b = g)
Onde w é a substância, a mesma a que se referia Kent. Ela é igual a a, o espírito, a b, a energia e a g, a matéria. Estes três elementos se diferenciam por se acharem em momentos evolutivos diversos e em diferentes estados de concentração, mas são sempre iguais a si mesmos, se interpenetram e se convertem um no outro. Chegamos assim a um modelo que nos permite a inteira compreensão do que nos afirmou Kent em sua filosofia: “a idéia de que a força não tenha nada anterior a ela mesma, conduz o homem à loucura (...) Mas ele que é racional se verá induzido a crer que existe um Deus supremo, que Ele é substancial, que Ele é uma substância, a primeira de todas as substâncias, da qual procedem todas as outras substâncias. Tudo procede Dele e desta maneira todas as séries, desde a suprema até a matéria mais ínfima, tem com Ele conexão. (...) Pensaremos em uma cadeia (...) há uma contínua dependência desde o primeiro até o último anel (...) e a alma, por sua vez, é uma substância simples”.
Acreditamos que A Grande Síntese pode nos ajudar a entender a genialidade de Kent e até mesmo a teoria das cordas. No respiro do Universo encontramos os elos que nos afirma Kent, onde cada substância vem de uma precedente e se faz depender de uma seguinte e assim, a cadeia de anéis se completam, começando e terminando em Deus.
Agora nos é possível compreender como tudo, até mesmo a matéria bruta, está impregnada de uma sabedoria oculta. Toda partícula é uma fração da divindade, um pensamento em ação e podemos aceitar como pode tudo possuir inteligência formativa, da matéria à energia e desta ao espírito, por propriedade intrínseca, pois toda Substância é uma particular expressão da essência divina. E assim se pode aceitar a afirmação de Kent ao dizer que “a substância simples está permanentemente dotada de inteligência desde o primeiro até o último do reino mineral, vegetal e animal”.
Compreenderemos como o átomo e seu universo, sendo também uma manifestação da mesma Substância, pode ter idêntica inteligência, expressa em sua unidade formativa e nas leis que o sustentam. Admitiremos então que a matéria tem uma inteligência primitiva ou rudimentar, a energia a tem em um grau mais expressivo, porém somente o espírito a possui em manifestação máxima, tornando-se “vontade e entendimento” como nos afirma Kent. Há, portanto, uma hierarquia, onde a inteligência do espírito domina a da energia e esta por sua vez domina a da matéria e assim entendemos como a substância da alma é de mesma natureza da energia e esta da matéria, fazendo de tudo o que existe um composto substancial de idêntica natureza. Aí vemos o mesmo sentindo de unidade que a teoria das cordas emprega a tudo que existe. E por isso o medicamento homeopático, também uma substância sutilizada em sua expressão mais simples pode tocar aquilo que é de sua mesma constituição e natureza.
Admitirmos os conceitos Kentianos de SS significa aceitar a unidade constitutiva do Universo com base na substância, conceito também Ubaldiano a que chamamos Monismo. Monismo que pressupõe uma origem comum para todos os elementos da criação e suas estreitas interdependências.
A proposição ubaldiana é ainda suficiente para nos fazer compreender a teoria das cordas, pois entenderemos que há uma entidade formadora e abstrata que sustenta os laços vibrantes, e tal somente pode ser a Substância Simples de Kent, ou a substância, w, de Ubaldi. Ela é um conceito que define a si mesmo e se transforma, por um íntimo movimento, impulsionado por um telefinalismo, expressando-se como um pulso de fases alternantes, progressivas. Sendo este pulso aberto a denominamos, pelo seu comportamento, de energia. Se tal movimento, no entanto, fecha-se em si mesmo, formando um turbilhonar de impulsos vibrantes e contidos num vórtice energético coagulado, a chamamos, em decorrência das propriedades de massa que gera, de matéria. Mas se o movimento se detém em sua essência básica, desfazendo sua potência no abstrato, o chamamos de espírito. Assim as cordas nada mais são do que os anéis da substância kentiana abertos ou fechados, rodopiantes e intrigantemente dinâmicos, gerando tudo o que existe. A teoria das cordas se completa com Kent e Kent se completa com Ubaldi, remetendo-nos para a Substância Incriada que flui do Criador, para onde devemos orientar a nossa visão e nossa caminhada a fim de que a essência substancial de que somos feitos cumpra com a finalidade para a foi criada: unir-se à Imanência Divina.
O CICLO DA SUBSTÂNCIA
Representação esquemática dos conceitos kentianos de “CADEIA”, “ANÉIS” e “FLUXO”.
GRANDE EQUAÇÃO DA SUBSTÂNCIA
w = (a = b = g)
a = espírito
b = energia
g = matéria
w = Substância
* * *
Este estudo é uma reedição do trabalho apresentado no Primeiro Encontro Mineiro de Homeopatia, realizado em maio de 1990, enriquecido por novas considerações e representa apenas um esforço de compreensão dos elevados conceitos que herdamos da profícua Filosofia Homeopática.
O edifício da Homeopatia não está de forma alguma pronto, está sendo erguido com os esforços de todos os homeopatas e nossas visões parciais e por vezes antagônicas são necessárias para a arquitetura do conjunto, que exige diversificação de seus elementos constituintes. No entanto saibamos sobrepujar nossas diferenças, unindo nossas semelhanças para a solidez da construção que necessita estabilidade. Tenhamos a coragem de derrubar velhas paredes, erguendo em seu lugar portas e janelas por onde possam transitar os valores mais puros de nossas experiências e do nosso esforço de edificarmos uma ciência de real valor para a Humanidade.
Belo Horizonte, setembro de 2002
Gilson Freire
BIBLIOGRAFIA:
- CAPRA, Fritjof - O Ponto de Mutação - Editora Cultrix.
- CAPRA, Fritjof - O Tao da Física - Editora Cultrix.
- GREENE, Brian – O Universo Elegante – Editora Companhia das Letras, São Paulo, 1999.
- KENT, James Tyler - Escritos Menores, Aforismos Y Preceptos
- KENT, James Tyler - Filosofia Homeopática.
- RIZZINI, C. T. - Evolução para o Terceiro Milênio.
- SWEDENBORG, Emanuel - Herein Know Thyself – Ed. New Jerusalem – Londres, 1967.
- SWEDENBORG, Emanuel - New Jerusalem and the Celestial Doctrine –New Jerusalem Ed., Londres, 1967.
- SWEDENBORG, Emanuel – O Céu e o Inferno – Ed. e Livraria Swedenborg Ltda, RJ, 1987.
- THORNAS, H. - Vida e Obra dos Grandes Capitães da Fé.
- UBALDI, Pietro. A Grande Síntese. 21a ed., Campos, RJ, INSTITUTO PIETRO UBALDI, 2001.
- UBALDI, Pietro. Deus e Universo. 2a ed., Campos, RJ, FUNDÁPU, 1985.
- UBALDI, Pietro. O Sistema. 2a ed., Campos, RJ, FUNDÁPU, 1984.
- UBALDI, Pietro. Queda e Salvação. 2a ed., FUNDÁPU, Campos, RJ, 1984.