Saúde e Espiritualidade I - Apresentação

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Este livro nasceu de um movimento de jovens estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG, liderados por Andrei Moreira de Souza, Fabrício Henrique Alves de Oliveira e Oliveira e Jorge Luiz Barbosa Júnior, os quais suscitavam a inclusão da espiritualidade na formação do médico. Movimento que resultou, em 2006, na criação da disciplina optativa Saúde e Espiritualidade, referendada por abaixo-assinado de 714 alunos dessa faculdade e o apoio de mais de 40 professores. Logo a disciplina entrou em vigor, sob a coordenação do professor Mauro Ivan Salgado, do Departamento de Cirurgia dessa faculdade, que acatou a idéia e lhe deu andamento. Ocorrendo semestralmente, integra hoje a grade curricular do curso médico, desenvolvendo-se com o auxílio de professores, pesquisadores e profissionais da área de saúde, de várias partes do Brasil, que trazem uma nova compreensão do fenômeno humano, sob a ótica espiritualista.

Acolhia-se, assim, a moderna tendência mundial de trazer para as universidades o estudo sistematizado da espiritualidade e sua decisiva influência na saúde humana. Nos Estados Unidos, por exemplo, desde o ano de 2000, 84 das 126 universidades americanas oferecem cursos optativos de medicina e espiritualidade.

As exigências da inédita disciplina induziram à formação de um grupo de apoio que orientasse a condução de seus temas e estudos. Assim, em outubro de 2006, sob a anuência da direção da Faculdade, foi criado o Nasce – Núcleo Avançado de Saúde Ciência e Espiritualidade – objetivando discutir, estudar e fomentar pesquisas científicas sobre a influência das crenças espirituais e religiosas na saúde humana. Dessa forma, o grupo favorecia a expansão do conhecimento ainda restrito do espiritualismo no meio acadêmico, disponibilizando-o para estudantes e profissionais da saúde, além de permitir o mais rápido desenvolvimento da disciplina que se estabelecia.

Conduzido pelos acadêmicos Fabrício e Jorge Luiz, com o decisivo apoio do professor Mauro Ivan, o grupo idealizou então a composição de um livro que viesse reunir os estudos até então empreendidos. Satisfazia-se, desse modo, aos anseios dos novos estudantes, interessados em aprofundar os temas apresentados na inovadora disciplina, ainda desprovida de suficientes referências básicas.

Procurando por caminhos que viabilizassem a obra, o Nasce encontrou-se com Gilson Freire, médico homeopata, com grande interesse e experiência na área de saúde e espiritualidade. Tendo já participado como convidado de alguns de seus seminários e aulas, ele prontamente se incorporou à equipe de trabalho, tornando-se um dos organizadores da nova obra que nascia. E através dele, o grupo consorciou-se ao Inede, grupo editorial existente na capital mineira, dedicado à publicação de obras espíritas.

Eis, em síntese, a história deste livro. Embora publicado por uma editora espírita e tendo arrebanhado boa parte de seus autores entre adeptos e simpáticos dessa doutrina, ele, naturalmente, se estende além de qualquer convencionalismo religioso. Primando pela universalidade e imparcialidade, seu objetivo consiste unicamente em ampliar a visão médica atual, servindo-se de todas as contribuições que possam uni-la à espiritualidade. É assim que a obra reúne, com enorme proveito para todos, ortodoxos, heterodoxos, heréticos e mesmo agnósticos, alinhados por um interesse comum: socorrer a medicina atual com os salutares conceitos espiritualistas, salvaguardando-a do renitente materialismo que cerceia sua compreensão e restringe suas possibilidades terapêuticas.

Nos dias hodiernos, o conhecimento científico oriundo do reducionismo cartesiano atingiu sua máxima capacidade de explicar a vida e suas inter-relações. As ciências biológicas tradicionais esbarram em conceitos intransponíveis sobre os fenômenos orgânicos. A epistemologia moderna, uma vez que se constatou que a matéria não pode mais explicar a si própria, requisita novos conhecimentos, fora do âmbito físico, para elucidar a fenomenologia universal. E desde que a física quântica comprovou a existência de potências sutis na geração e sustento da realidade física, antevê-se como viável a possibilidade de que um campo dinâmico de igual natureza, presente também nos seres vivos, da mesma forma se responsabilize pela tessitura e organização das biomassas. Sendo o agente primário da vida, este seria, em última análise, o fomentador da saúde e da doença. Conceito que encontra perfeita correspondência com antigos pressupostos espiritualistas, os quais, em todos os tempos, afirmaram ser a vida produto de forças sutis da alma, e não da matéria em que se expressa. Diante desse novo paradigma, o espírito ressurge como uma hipótese viável, não mais pertinente apenas aos interesses restritos das religiões, mas igualmente da ciência.

Tendo como único e nobre fim solucionar as dores humanas, a medicina deveria ser a primeira a se interessar por essa nova proposta. Sabidamente, a norma terapêutica por excelência preconiza ser necessário conhecer a etiologia de um mal para se combatê-lo de modo eficaz. Logo, é imperioso que a nobre ciência se aproprie dos fundamentos do espírito, por ser este, e não a matéria, a instância última que sustenta a vida e de onde partem tanto o equilíbrio quanto os distúrbios orgânicos. São extraordinários horizontes de conhecimentos, plenos de novas potencialidades, a se desfraldar aos olhos das pesquisas científicas modernas, que o médico e os demais profissionais de saúde não podem mais ignorar.

Ante tais prerrogativas, prontas a revolucionar a terapêutica moderna, urge trazer para o terreno médico as pertinentes considerações e especulações sobre espiritualidade, propiciando-se o desenvolvimento de uma medicina mais eficaz e aderida às necessidades e anseios humanos. Necessidade essa já vislumbrada pela própria Organização Mundial de Saúde, que acena, nos dias atuais, com a premência de se incluir o tema espiritualidade na assistência à saúde, a fim de ampliar os recursos disponíveis ao bem-estar humano, favorecendo-o com os inquestionáveis benefícios da interação entre corpo, mente e espírito.

Atendendo a tal imperativo, esta obra almeja contribuir para que esse importante movimento se incorpore aos interesses acadêmicos e passe a integrar as pesquisas desenvolvidas no âmbito universitário, onde se localiza a mais genuína fonte de sabedoria humana. Endereçada ao pensador, ao estudante, ao pesquisador e ao profissional da área de saúde, seus autores e organizadores se empenharam ao máximo para agregar à medicina contemporânea os novos e úteis conhecimentos que descortinam os admiráveis potenciais terapêuticos residentes no espírito. Embora ainda não oficializados pela ciência, são informes que não podem continuar ignorados como genuínos caminhos para melhor se compreender o homem que sofre e tratá-lo de forma mais humanitária e holística. E por concernir essencialmente ao padecimento humano, essas conjecturas não podem continuar restritas a crenças e opiniões particulares.

Configurando um conjunto de ponderações e proposições que incluem a espiritualidade como um preceito fundamental, este livro planeja ainda anunciar o advento de uma nova medicina a se estabelecer nos dias vindouros, atendendo à inovadora visão de mundo que já irrompe nos horizontes humanos. Visão de mundo que está sendo edificada pela própria ciência, ao adentrar a realidade imponderável que tudo sustenta no universo. Sem pretender ser um repositório de verdades, a obra intenciona, assim, prenunciar os pilares fundamentais dessa nova arte terapêutica, já antevista nos caminhos da humanidade.

Em uma apresentação o mais ampla possível, o trabalho, a se desdobrar em subseqüentes volumes, correlaciona diversos temas de interesse atual, como experiências de quase morte, tanatologia e eutanásia. Discorre sobre práticas consideradas não convencionais de saúde, por exemplo, homeopatia, medicina tradicional chinesa, fitoterapia, medicina ayurvédica e antroposófica. Além disso, apresenta inovadores estudos embasados em pesquisas científicas que revelam os benefícios da fé e dos valores espirituais na manutenção do bem-estar humano. Entre assuntos hodiernos, foram incluídos temas que rompem paradigmas, como a visão quântica, a musicoterapia e a psicologia transpessoal. E muitos outros, a serem apresentados nos livros que seguirão, todos, contudo, correlacionados ao tema fundamental: Saúde e Espiritualidade.

Contudo, a obra não está concluída. Ela crescerá com a chegada de novos estudos que venham contribuir para se desvendar o intrigante campo espiritual humano, a entreabrir-se em maravilhosas possibilidades para o exercício da medicina.

Em decorrência de seus mais altos objetivos, a obra reúne, nos volumes que a integrarão, trabalhos ainda considerados complementares, por carecer da comprovação oficial da ciência, como palingenesia, terapias espirituais e teorias sobre campo espiritual e energia vital. Não obstante, integram disciplinas que não podem mais permanecer ignoradas, em decorrência dos seus inquestionáveis benefícios, já validadas pela prática de muitos profissionais de saúde e consagradas pela sabedoria popular.

São temas que muitos, ainda imbuídos de preconceitos, podem julgar inúteis, imputando-lhes a ausência de bases comprobatórias. Todavia, se o pesquisador fosse aguardar, para penetrar determinada área do conhecimento, o aval da ciência, esta não caminharia como convém, deixando de desvendar o desconhecido, em obediência a injustificáveis preconceitos. Por isso, os autores e organizadores acreditam que, no futuro, esse manancial de informações será incorporado ao acervo científico, como aconteceu no passado com tantas outras acepções. Basta observar a história humana para verificar que muitos preceitos, antes considerados infundados, são hoje resgatados pelas pesquisas como informações indispensáveis à compreensão da fenomenologia universal.

Os esforços dos autores em transmitir seus ensaios conceituais resvalam, por vezes, em impedimentos de ordem lingüística, uma vez que elaboram temáticas pertinentes ao domínio espiritual, cuja terminologia ainda escapa ao vernáculo em uso pela ciência moderna. E não terminam aí as dificuldades, pois, na atualidade, somente a metodologia dedutiva se mostra capaz de penetrar o campo espiritual, conferindo-se aos seus estudos aparente subjetivismo, a se evadir da razão cartesiana ainda requisitadas pela objetividade científica.

Torna-se evidente que muitos dos temas de Saúde e Espiritualidade, assim como aqueles pertinentes à nova física, requerem novas metodologias de pesquisas e renovados parâmetros de estudos, ainda não desenvolvidos pela ciência convencional, advindo daí a dificuldade de se enquadrá-los devidamente no academicismo atual. Por isso, solicita-se ao leitor a tolerância com jargões que possam parecer distantes da linguagem comum da ciência, como alma, eflúvios energéticos¸ aura, carma, reencarnação, chacras, prana e outros mais, os quais não podem ser rejeitados simplesmente por não integrarem o reconhecido vocabulário científico.

Este livro espera ainda não ser uma erudição vazia, um repositório de belas, porém, estéreis palavras. Evidentemente, não basta a simplória atitude de se considerar a espiritualidade como uma crença a desempenhar importante papel na produção de bem-estar ao paciente, a qual o médico tem a obrigação de conhecer e respeitar. É preciso admitir o espírito como domínio feitor da vida e potência decisiva na manutenção da saúde – preponderante, portanto, no ato curativo médico.

Abrir as portas para esse novo roteiro de estudos com ricas possibilidades terapêuticas e trazê-lo para a realidade médica hodierna – eis a que este livro se propõe. Nesse sentido, ele não pode e não pretende, evidentemente, ser um trabalho encerrado em irrefutáveis conclusões. Servindo-se unicamente como um guia, ele espera apenas ser uma pequena janela a se entreabrir a essa nova medicina. Se assim ele for julgado e mostrar-se para tanto útil, o seu objetivo terá sido alcançado.

Portanto, se muitos, a partir de sua leitura, sentirem-se convocados a somar esforços na edificação dessa revolucionária arte médica, a sustentar-se no primado do espírito, então seus autores e organizadores sentir-se-ão plenamente recompensados pelo esforço empreendido.

Belo Horizonte, inverno de 2008

Os organizadores

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