Tabernáculo Eterno - Prece do Filho Pródigo
Prece proferida por Heitor, um de seus personagens, marcando o encerramento da obra.
Senhor, criaste-nos no Teu seio sagrado, contudo, pedindo-Te a herança, optamos por deixar o Teu amoroso aconchego para viver dissolutamente, sob as intempéries do frio, da fome e da carência de toda sorte. Agora, Senhor, dá-nos a nostalgia da Tua Casa para que, arrependidos, apressemos os passos na grande estrada de retorno ao Lar Eterno.
Confiaste-nos a ciência do absoluto, mas, imprevidentes e enceguecidos pelo orgulho, relegamo-nos às sombras da ignorância. Agora, Senhor, concede-nos mestres e oportunidades para que, com o nosso esforço, reconquistemos o conhecimento infuso que detínhamos de Tua excelsa sabedoria.
Instruíste-nos com a Tua Lei, todavia, decidindo pela revolta, fizemo-nos criminosos nas trilhas sombrias da vida, ignorando-Te as instruções para a conquista da felicidade. Agora, Senhor, confere-nos a dor do remorso para que restauremos a retidão da consciência, única a franquear-nos alegrias verdadeiras.
Brindaste-nos com a Vida Eterna, porém, imersos na inconsciência da matéria bruta, passamos a viver uma eternidade entrecortada pela morte, nos intermináveis ciclos da vida. Agora, Senhor, acode-nos com a oportunidade do renascimento na carne para que, na senda do progresso, possamos ingressar na gloriosa ressurreição do espírito.
Vestiste-nos, ao nascer, com a túnica de luz, não obstante, escolhemos fantasiar-nos com o precário manto físico, o qual nos extenua dirimir. Agora, Senhor, deixa-nos atritar no doloroso buril da evolução para que se nos desgastem os grosseiros envoltórios que maculam a pureza com a qual nos criaste.
Pediste-nos nobilitar os nossos semelhantes, entretanto, adotando a iniqüidade da arrogância para gerir os nossos destinos, apressamos a vangloriar-nos em detrimento dos demais. Agora, Senhor, torna-nos pequenos a fim de habilitarmo-nos a crescer como convém, valorizando o nosso irmão como a nós mesmos.
Ofertaste-nos o amor por alimento das almas, ainda assim, elegemos a morte do outro para nos sustentar nos lamentáveis atritos da luta pela sobrevivência. Agora, Senhor, faze-nos famintos de afeto, para que busquemos na fraternidade sincera o verdadeiro e inesgotável nutriente de nossas vidas.
Convidaste-nos ao exercício do bem como o quesito indispensável à própria felicidade, destarte, abraçando a egolatria, assumimos a ingerência do ódio como execrável norma de vida. Agora, Senhor, proporciona-nos a expiação de nossos desatinos para que, sofrendo em nós o mesmo mal que infligimos ao outro, versemo-nos na ciência da bondade.
Presenteaste-nos com a perfeição, sem embargo, favorecendo a distonia, acatamos viver sob o império do caos que então nos custa organizar. Agora, Senhor, contempla-nos com a sofreguidão pela harmonia e pela beleza, a fim de adestrarmo-nos rapidamente em Tua impreterível ordem.
Propiciaste-nos a abundância de todos os bens, no entanto, decidindo pelo egoísmo soez, tornamo-nos indignos de Tua benevolência. Agora, Senhor, abstém-nos dos valores supérfluos para que, aprendendo a viver na simplicidade e a compartilhar o que nos dá por empréstimo, reconquistemos o direito de usufruir o Teu inapreciável relicário.
Filhos pródigos do Teu amor, sedentos do Teu afeto, ávidos da Tua paz, carentes da Tua luz e cansados de errar pelas constritas veredas do relativismo, sob as vagas do tempo, que impere em nós um único anseio, sobre todos os nossos desejos: retornar apressadamente ao Teu mirífico regaço.
Faze isso, Senhor, pois que Te pedimos com todas as forças de nossa alma.
Assim seja